Toca o despertador e dois olhos pequenos e verdes surgem abertos em meio ao emaranhado de lençóis, Kayque levanta-se atordoado, caminha até o banheiro coçando a cabeça lentamente, fazendo um remoinho de cabelo em torno do indicador e para em frente ao espelho. Apesar dos seus 20 anos tinha um rosto conservado aparentando ter 18; pele branca e bronzeada, tipo físico sarado, atraente, cabelos curtos, castanhos com pequenos fios dourados e boca perfeitamente desenhada. Ele analisa a barba que não estar grande retira a roupa de baixo e vai para o chuveiro.
Após 15 minutos ele sai do quarto arrumado, pega a mochila e sai de casa, anda duas ruas para chegar à padaria onde pede um café; após terminar, dirigi-se para a parada do ônibus e o esperar por 20 minutos. Dentro do veiculo ele retira o livro Fortaleza digital, de Dan Brown. Senta-se e foca-se no que lê, por 1 hora, até chegar à faculdade.
Faltam apenas dois semestres, para a formatura, que estão sendo muito bem aproveitados; sempre foi o sonho da família um filho médico e ele estava preste a realizar. Ao descer do transporte foi logo abordado por Lúcio e Josie, o casal perfeito. Bianca e Rafael chegaram em seguida.
A popularidade nunca lhe foi algo surpreendente, desde o colegial já estava acostumado com aquilo, mas ao entrar na sala notou uma diferença dos outros dias, uma presença estranha o deixava inquieto; mesmo assim ele sentou-se e continuou a conversar com os amigos.
Já estava na metade da aula de embriologia, e a inquietação dele era cada vez maior, anotando no caderno tudo o que o professor falava. Kayque não levantava a cabeça, nem para olhar seus amigos que tentavam puxar conversa e, ao terminar as anotações, levantou a cabeça e, saltou assustado; havia uma garota ao lado do professor. Olhos tristes e cruéis, o encaravam, cabelos negros, grossos e sebentos e uma roupa suja e manchada, sobre o corpo branco como gesso; esfregando os olhos, para se acalmar, olhou para o lado e todos estavam sangrando pelos orifícios da face deformada.
Sem mais conseguir conter-se, ele soltou um alto grito, todos o olhavam assustado, após notar o ocorrido, envergonhado saiu sala, seus amigos saíram logo atrás, estavam calados e surpreendentemente o olhavam com indiferença.
O que é que vocês tanto olham? Estão achando que eu fiquei maluco?! Pensa Kayque... Talvez seja você, Josie, que quer acabar com a minha formatura e colocou algo na minha água, sei que você nunca aceitou que eu tenha terminado contigo... Não, deve ter sido o cansaço, não posso acusar os outros assim.
– Bem eu acho que já vou. – dando alguns passos desconcertados para trás. – Não pretendo continuar aqui chamando atenção.
– Espera! Você nunca se incomodou com os outros, por que ir agora. - Bianca o segura pelo braço e o arrasta até o refeitório.
O rapaz discorda e se solta, dar inúmeras explicações, desejando não ir até o refeitório, as aulas acabam e todos saem olhando-o e sussurrando.
– O que eu preciso fazer para você ficar em. – os grandes seios dela roçam no braço dele.
Do jeito que você estar se esfregando em mim, quem vai fazer algo sou eu. Fala para si mesmo. – Nada!
Nossa! Dispensou uma investida minha então você tem culpa e já estar tentando escapar. Bianca o olha provocante.
– Tem certeza que quer ir embora. - disfarçadamente a língua da garota passa sob o lábio inferior.
– Pensando bem. Acho que ir para casa não vai mudar alguma coisa.
Kayque acompanha a garota olhando para aquele rosto safado, e imaginando como seria a noite. Todas as pessoas que estavam no local, param, e olham fixamente para ele que se constrange cada vez mais. A galera dele já estar sentada esperando o refresco, e quando Kayque se senta.
– Bem... Kike foi estranho o que aconteceu hoje? - fala Rafael
Ele não responde, apenas olha para o amigo significando que não queria aquele assunto na mesa. Lúcio logo em seguia continua a conversa, recebendo um olhar raivoso do amigo.
– Pode ter sido algo que você tomou! - a pretensão e ironia no tom da Bianca, fizeram todos se calarem. Que mancada a minha?!
– Então! Quem vai à festa de hoje? É uma boate nova e, agente nunca deixou de inaugurar nenhuma boate por aqui. – tentando disfarçar a burrada com um sorriso.
– Hoje eu não vou, estou meio ocupado com o trabalho, à faculdade ta puxada e ainda faltam alguns relatórios. – Rafael é um rapaz charmoso, de olhos verdes, barba sempre retocada e corpo pouco atlético.
Apesar de ser o mais novo daquele meio, foi o que mais subiu no nível trabalhista. Com seus 19 anos já estava pronto para um alto cargo.
Bianca falou de uma maneira irrecusável com Josie e Lúcio e rapidamente olhou silenciosa para Kayque esperando pelo sim.
– Não vou, estou cansado e não estou com pique para festas hoje.
A insistência dela não tinha limites, já passara alguns minutos chamando e insinuando que queria levá-lo para a cama dela, aquele olhar pervertido já falava por si só, não precisando de palavras para encantá-lo.
Eu nunca desisti de nenhuma balada, e agora com você garantida, não andarei para trás, afinal que homem eu seria se não a acalentasse. Mas... Aquele lance de hoje. – Vou não! Tenho que estudar para a aula de sábado.
A garota o olha fixamente, e reclama um pouco, avisando que não chamará outra vez. Droga o que será que esse garoto me esconde. Ele tem culpa nessa historia e eu conseguirei descobrir.
Passaram uma hora conversando e depois todos foram para a parada esperar um ônibus, passaram alguns minutos e Bianca não tirava os olhos de Kayque, que continuava calado e pensativo. Lúcio tenta animá-lo, mas nenhuma resposta, as meninas não param de soltar indiretas, o constrangido ainda mais.
– Qual é galera! Ta na hora de parar né?!
Bianca se cala e escuta kike balbuciar olhando para ela. Garoto, mesmo não querendo você se entrega... Os outros podem achar que foi algo na sua bebida, mas eu ainda tenho a certeza que é outra crise de popularidade. Seu pivete mimado.
– Chegou o “busão”, cuidado na volta viu QUE-RI-DO.
Kayque sobe desconfiado do tom utilizado pela garota, mostra um sorriso e senta, torcendo para que o transporte saia logo dali.